Análise de Geolocalização em Celulares em Processos Criminais

Em um mundo onde os smartphones são extensões de nós mesmos, a análise de geolocalização se tornou uma das ferramentas mais poderosas para a investigação criminal. Cada movimento, cada conexão com uma torre de celular ou um ponto de Wi-Fi, deixa um rastro digital que pode ser recuperado e analisado. Este artigo explora o funcionamento dessa técnica, sua aplicação, limitações, valor jurídico e sua crescente importância para o sistema de justiça, revelando como a prova da presença de um indivíduo em um local específico pode ser decisiva para a resolução de um crime.

Técnicas de Análise de Geolocalização

A análise de geolocalização não se baseia em uma única fonte, mas na triangulação e interpretação de diversas informações. As técnicas mais comuns incluem:

  • Dados de Antenas de Telefonia (ERB): O método mais tradicional. Quando um celular está ligado, ele se conecta à Estação Rádio Base (ERB) mais próxima. Ao analisar os registros de conexão com diferentes torres ao longo do tempo, é possível traçar uma área aproximada onde o aparelho esteve. A precisão, no entanto, é limitada, variando de centenas de metros a vários quilômetros em áreas rurais.

  • Dados de GPS: O Sistema de Posicionamento Global (GPS) oferece a maior precisão, geralmente de poucos metros. Aplicativos que usam o GPS (como mapas, redes sociais e aplicativos de transporte) geram registros que podem ser coletados por meio de mandado judicial.

  • Dados de Wi-Fi e Bluetooth: O celular registra a localização de redes Wi-Fi e dispositivos Bluetooth. Essas informações podem ser usadas para determinar a presença do aparelho em locais específicos, como uma residência ou um estabelecimento comercial, com alta precisão.

  • Dados de Sensores Internos: O aparelho também registra dados de sensores, como acelerômetros e giroscópios, que podem ajudar a determinar se o celular estava em movimento (dentro de um carro, por exemplo) ou parado.

O Uso Estratégico em Investigações Criminais

A análise de geolocalização é uma técnica de investigação crucial, utilizada em uma vasta gama de crimes. Ela permite rastrear a movimentação de suspeitos e vítimas, confirmando ou refutando álibis. Em casos de roubo ou sequestro, a análise pode ajudar a determinar a rota do criminoso. Em crimes de homicídio, os dados podem posicionar o suspeito na cena do crime no momento exato do ocorrido. Também é fundamental para rastrear a comunicação entre criminosos, identificando encontros e a coordenação de ações. A geolocalização, combinada com outras provas, como testemunhos e imagens de câmeras de segurança, se torna uma ferramenta poderosa para a reconstrução dos fatos.

Limitações Técnicas e Desafios da Prova

Apesar de seu poder, a prova de geolocalização não é infalível e apresenta limitações técnicas significativas. A principal delas é a precisão variável. Dados de ERB, por exemplo, podem cobrir uma área muito grande, tornando-se imprecisos para determinar uma localização exata. Além disso, a cobertura de rede, a quantidade de dados disponíveis e a topografia do local podem afetar a acurácia. A manipulação de dados também é um risco. Criminosos podem utilizar softwares que alteram o sinal de GPS (“spoofing”) ou simplesmente desativar o celular para evitar o rastreamento. Outro desafio é a obtenção dos dados, que depende de mandados judiciais e da cooperação das empresas de telefonia e tecnologia, um processo que pode ser lento.

Validade Jurídica e a Proteção de Direitos

A validade jurídica da prova de geolocalização é tema de intensa discussão. No Brasil, o entendimento predominante é de que a obtenção desses dados é uma medida invasiva que viola o direito à privacidade e, portanto, exige autorização judicial expressa e específica. A coleta de dados sem um mandado pode resultar na inadmissibilidade da prova, sendo considerada ilícita. É crucial que a decisão judicial detalhe a abrangência e o período da quebra de sigilo de dados. A prova só será aceita se a cadeia de custódia for rigorosamente respeitada, garantindo que os dados originais não foram alterados desde a sua obtenção até a sua análise e apresentação em tribunal.

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Título do Artigo:
Análise de Geolocalização em Celulares em Processos Criminais

Jeorge Nunes

Perito digital com sólida atuação em computação forense, especializado em sustentar tecnicamente a defesa de réus em ações penais que envolvem provas digitais.

Credenciado como perito nos Tribunais de Justiça de 22 estados, incluindo SP, RJ, DF, GO, RS, PR e outros.

Membro da APECOF (Associação de Peritos em Computação Forense) e registrado no CREA-GO.

Formação: MBA em Informática Forense, MBA em Direito Cibernético, MBA em Gestão de TI (IPOG) e Engenheiro de Software pela UniRV.

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